Poucas pessoas conseguiram ocupar tantas frentes de pensamento e prática dentro do cinema brasileiro quanto Jean-Claude Bernardet. Crítico, teórico, professor, artista, roteirista, diretor e militante. Um pensador inquieto, provocador e necessário. Sua morte deixa um vazio imenso, tão grande quanto a densidade de sua obra múltipla que continua reverberando na forma como o Brasil pensa e faz cinema.
Nascido na Bélgica, Bernardet chegou ao Brasil ainda criança e foi aqui que formou seu olhar crítico e politizado sobre as imagens, o país, o mundo e o outro. Sua trajetória atravessa o Cinema Novo, o Cinema Marginal, a ditadura militar, o Cinema da Retomada e o presente, sempre em diálogo com os movimentos sociais, a universidade e o desejo de transformação.
Jean-Claude não se limitava à análise de filmes; ele se lançava ao debate cultural com a mesma potência com que se dedicava à formação de novas gerações. Como professor da ECA/USP, impactou diretamente o pensamento cinematográfico do país, sendo uma figura fundamental para cineastas, críticos e acadêmicos que moldam o cenário contemporâneo.
Seus textos não eram fáceis, mas também nunca foram condescendentes. Bernardet desafiava a leitura, assim como desafiava o próprio cinema. Suas obras compõem o embasamento fundamental da crítica engajada no país, estabelecendo pontes entre estética, ideologia e produção cultural num momento efervescente da nossa história.
Sua identidade como pensador e escritor sempre emanou uma visão crítica, diversa e panorâmica de movimentos cinematográficos, exercendo um trabalho fundamental para a catalogação e construção de material bibliográfico e uma base informativa para o estudo e o pensamento sobre Cinema no Brasil.
Mas Bernardet não parou na teoria. Atuou como roteirista, ator e diretor em obras de grandes nomes do nosso Cinema e dirigiu “São Paulo, sinfonia da metrópole”, seu melhor filme. Uma carta de amor e ódio, cacofônica, caótica, urbana e potente sobre a incessante metrópole brasileira.
Seu legado é inescapável. Porque Jean-Claude ajudou a forjar não apenas uma forma de pensar o cinema, mas uma ética do olhar. Uma ética do engajamento com o mundo através das imagens.
Se hoje há um cinema brasileiro vivo, politizado, atento às contradições do país, ele deve muito a esse mestre.
E, acima de tudo, recomendo ler Bernardet.
Não há forma melhor de homenageá-lo do que seguir em movimento, com pensamento crítico, abertura radical e paixão pelas imagens.
Adeus, Jean-Claude. Obrigado por tanto.
Até a próxima!
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Belo texto e bela homenagem