CINESTESIA #15 | As videolocadoras estão voltando?
Crescimento e consolidação da mídia física no mercado de áudio levantam o questionamento: será que as videolocadoras poderiam voltar à moda?
Você tem saudades das videolocadoras? Bom, eu tenho!
Por mais míope que esse sentimento nostálgico possa ser (afinal, no mundo de hoje temos um acesso imenso a diversos filmes e séries, com extrema qualidade técnica e de exibição, no conforto de casa e na palma da nossa mão), ainda assim, as videolocadoras guardam um lugar especial na memória e no coração de todo cinéfilo que viveu essa cultura popular até meados dos anos 2010.
Apesar de o streaming ser uma realidade cada vez mais consolidada e difundida na forma de consumo de cinema, séries, música e entretenimento em geral por todo o mundo, existem mudanças de comportamento em outros mercados que têm resgatado a mídia física através de uma espécie de relação nostálgica, sobretudo na fotografia analógica e na volta do vinil.
Então, vale perguntar: será que as videolocadoras podem renascer nos próximos anos?
A Ascensão e queda das videolocadoras no Brasil
As videolocadoras começaram a surgir no Brasil no fim dos anos 1970 com sua popularização já nos anos 1980, acompanhando o crescimento do videocassete. Em pouco tempo, se tornaram um fenômeno cultural acessível a todas as classes sociais, transformando-se em um dos principais meios de entretenimento doméstico. Na década de 1990 e início dos anos 2000, seu auge foi marcado pela massificação dos DVDs e pelo fortalecimento das distribuidoras de home video.
Para se ter uma ideia, em 2005, o Brasil contava com cerca de 14 mil videolocadoras em atividade. No entanto, a popularização da internet, a pirataria digital e o avanço dos serviços de streaming iniciaram um declínio acelerado do setor. Em 2012, esse número já havia caído para 4 mil locadoras, e a tendência de retração se manteve. Em algumas cidades, como Campinas (SP), o número de videolocadoras ativas caiu de 320 para apenas 37 entre 2009 e 2014.
Passados 11 anos desta última pesquisa, não consegui encontrar mais dados atualizados para sustentar um número real, o que me leva a pensar da provável extinção (ou quase) delas.
Apesar do declínio, algumas locadoras resistiram, reinventando-se como espaços culturais ou oferecendo curadorias especializadas para um público cinéfilo que ainda valoriza a experiência de selecionar um filme fisicamente.
Em São Paulo (capital), a cidade com mais salas de cinema do Brasil, temos apenas 04 videolocadoras que resistiram ao teste do tempo e seguem abertas ao público.
A valorização do analógico
A volta do vinil e o ressurgimento da fotografia analógica mostram que a mídia física pode se tornar um artigo de desejo e até um objeto de status. No caso da fotografia, a textura e o grafismo do filme analógico oferecem uma estética distinta que o digital não consegue replicar. Já no vinil, há um argumento técnico forte: muitos defendem que a qualidade sonora dos discos supera a compressão dos arquivos digitais e do streaming.
Mas e as videolocadoras? Elas poderiam seguir esse mesmo caminho?
O desafio aqui é que o VHS e o DVD não oferecem um diferencial técnico relevante. A experiência de assistir a um filme via streaming, com resolução 4K e som de alta definição, é superior àquela proporcionada pelo DVD ou pelo VHS. O apelo nostálgico da mídia física, nesse caso, precisaria estar atrelado a outros fatores, como curadoria, experiência e exclusividade.
Uma questão de mercado
O retorno do vinil só foi possível porque a indústria conseguiu transformar o toca-discos em um artigo de desejo, tanto pelo design quanto pelo apelo decorativo. No caso das videolocadoras, poderíamos imaginar um movimento semelhante com DVD players repaginados, de design inovador, que combinassem estética e tecnologia de forma atrativa.
Além disso, cresce o interesse por experiências imersivas, como os "listening bars" — bares que oferecem uma ambientação aconchegante para os clientes ouvirem discos de vinil enquanto bebem e socializam. Será que um conceito parecido poderia funcionar para o audiovisual?
Uma videolocadora moderna poderia ser um espaço cultural multifuncional, oferecendo:
Exibições de filmes raros ou cultuados.
Um café temático que une cinema e gastronomia.
Curadorias especiais e eventos com diretores e críticos.
Mostras e cineclubes dedicados a gêneros específicos.
Mas há um grande obstáculo: a praticidade. O processo de ir até uma locadora, pedir uma indicação, alugar um filme, assistir e depois ter que devolvê-lo é algo que as novas gerações podem não estar dispostas a reviver. A experiência teria que ser tão atrativa que superasse essa barreira.
Será que o público venceria a preguiça? Acho difícil.
O que ainda existe?
Se a experiência da locação pode não ser atrativa para todos, a colecionabilidade dos DVDs e Blu-rays ainda encontra um nicho fiel. Algumas edições especiais se tornaram objetos de desejo, principalmente aquelas que oferecem extras exclusivos, como cartazes, cards e versões restauradas de filmes raros.
Um exemplo é a Versátil Home Video, uma empresa brasileira especializada em edições de colecionador, que mantém um catálogo robusto com lançamentos exclusivos para o público cinéfilo.
Esses produtos ainda encontram mercado por oferecerem algo que o streaming não entrega: a posse material do filme e um conteúdo extra cuidadosamente selecionado.
No fim das contas….
O retorno das videolocadoras em grande escala parece improvável, mas isso não significa que elas desaparecerão completamente. Se reinventadas como espaços culturais, com propostas diferenciadas e experiência imersiva, podem continuar relevantes para um público de nicho.
QUERO TE OUVIR!
E você? Tem alguma memória especial com videolocadoras? Comprou algum DVD ou Blu-ray recentemente? Conta aqui nos comentários \/
ESTREIAS DA SEMANA
Nesta quinta-feira, 30 de janeiro (31/01), alguns filmes interessantes chegam as salas de cinema do Brasil.
Alguns filmes que conquistaram indicações em categorias variadas do Oscar como A Verdadeira Dor, Trilha Sonora para Um Golpe de Estado e Setembro 5. Além deles, filmes de gênero, como Covil de Ladrões e O Homem do Saco também estreiam, assim como o retorno às salas de Seven: Os Sete Crimes Capitais, em comemoração aos 30 anos de seu lançamento.
O filme nacional Kasa Branca também estreia no circuito aberto nesta quinta-feira, 30/01.
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Adorei, muito apropriada a sua colocação. Li que as fitas cassete estão voltando também, está dentro do que você levantou aqui. Tenho muitos filmes inclusive de Versátil, um dos motivos que eu gostei muito do seu texto: a maior parte dos filmes que tenho como colecionador não estão disponíveis em
nenhum serviço de streaming. Sou super a favor deste resgate, adorei o que você imaginou como um centro cultural com vídeos cassetes, café e tal. Parabéns!
Adorei!
Pra pensar …. Eu amava as video locadoras