CINESTESIA #05 | No meu tempo era melhor...
Quase completando os primeiros 25 anos dos "anos 2000", que tal um exercício de nostalgia do nosso presente?
Quem nunca apelou para a nostalgia com frases como “na minha época…” ou “lá nos anos sei lá o quê…”, que atire a primeira pedra.
Me antecipando alguns - muitos - anos, e num contexto onde a nostalgia é cada vez mais efêmera e fabricada, acho justo fazer um exercício de valorização do bom Cinema que é - e foi - produzido nestes quase 25 anos de segundo milénio e século XXI (já estamos quase em 2025, PQP!).
De quebra, uma lista de 25 cineastas (homens e mulheres, de várias nacionalidades e estilos diferentes) que fazem Cinema de primeiríssima qualidade, com um filme de cada para você conhecer e acompanhar.
Borá lá?
OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: a ideia é falar de diretores e diretoras que tem a maioria da própria filmografia, sobretudo seus “auges” nestes últimos 25 anos. Por isso, grandes realizadores que iniciaram as carreiras nos anos 70, 80 e 90 e seguem até hoje, não estarão na lista. Tentei, ao máximo, manter cineastas que tem a maioria da filmografia produzida nos anos 2000.
Os expoentes em tempos de crise em Hollywood
O cinema hollywoodiano do século XXI enfrenta um cenário de uma certa crise criativa e, sobretudo, industrial. Hoje, a maioria dos filmes produzidos sob a tutela dos grandes estúdios são produções de orçamentos expressivos que, consequentemente, requerem um retorno de bilheteria estrondoso para serem considerados sucessos comerciais.
Por outro lado, alguns cineastas ainda conseguem o “green light” dos estúdios para desenvolver narrativas mais íntimas e autorais, enquanto outros nomes trafegam numa cena mais “alternativa” ou “independente” da indústria, para se destacar.
David Fincher é um diretor de domínio técnico impressionante que, apesar do sucesso com Clube da Luta ainda em 1999, teve nos anos 2000 suas melhores produções, sendo, inclusive, responsável por um dos meus filmes favoritos deste milénio: A Rede Social (2010).
Outros cineastas estadunidenses de destaque são os irmãos Josh e Benny Safdie, cujas obras pulsantes capturam a ansiedade do caos urbano e as grandes cidades como uma representação física da opressão do mundo capitalista contemporâneo.
Há uma dupla de diretoras que mulheres cujo trabalho profundamente humano, politizado e pungente precisam ser reconhecidos: Kelly Reichardt e Eliza Hitmann abordam questões femininas com uma carga social e política latente, cada uma à sua maneira, provocando a audiência à confrontar os retratos sociais de um país que tem um atestado de crise cultural.
Um nome que não poderia faltar é Jordan Peele, responsável pelo fenômeno cultural que foi Corra! (2017), mas que é dono de uma intrigante filmografia enraizada no terror e na ficção até então, sempre carregando uma forte carga social voltada à questões raciais.
Num contexto de crise criativa nos grandes blockbusters, Matt Reeves equilibra o peso das franquias com visões criativas e autorais, trazendo sopros de autoralidade em meio a grandes produções como The Batman e Planeta dos Macacos.
Já Paul Thomas Anderson consegue trafegar da comédia ao drama, com filmes tão energéticos quanto minuciosos, sempre carregados por um exercício técnico impecável.
Fechando essa “categoria”, James Gray - um dos meus cineastas favoritos - continua sendo um dos poucos que mantém um cinema classicista e profundamente emocional na atualidade, dando vida a algumas das melhores histórias de tragédias que abordam, no subtexto, a formação dos EUA como um país falho.
Indicações (clique aqui e acesse a lista no Letterboxd):
James Gray - Z: A Cidade Perdida
Josh e Benny Safdie - Joias Brutas
Kelly Reichardt - First Cow
Eliza Hitmann - Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre
David Fincher - A Rede Social
Matt Reeves - Planeta dos Macacos: A Guerra
Jordan Peele - Não! Não Olhe!
Paul Thomas Anderson - Trama Fantasma
O cinema brasileiro
Os primeiros 25 anos do século XXI têm sido desafiadores para o cinema brasileiro, mas também incrivelmente criativos. Em meio a crises políticas e financeiras, cineastas como Kleber Mendonça Filho e Juliana Rojas têm explorado a identidade nacional com coragem e originalidade.
Suas obras combinam comentários sociais incisivos com experimentações de gênero, mostrando que o cinema brasileiro é capaz de transitar do realismo ao fantástico com fluidez.
Anna Muylaert, por sua vez, reforça o olhar íntimo para questões familiares e sociais, destacando as complexidades das dinâmicas de classe e gênero no país.
Esse grupo de cineastas reafirma que o cinema brasileiro não só resiste, mas encontra maneiras inovadoras de contar suas histórias, conectando-se tanto ao público nacional quanto ao internacional.
Indicações (clique aqui e acesse a lista no Letterboxd):
Juliana Rojas - Sinfonia da Necrópole
Anna Muylaert - Durval Discos
Kleber Mendonça Filho - O Som ao Redor
O cinema europeu
Na Europa, o século XXI testemunhou uma rica diversidade de abordagens cinematográficas que vão do realismo social à exploração de temas existenciais.
Christian Petzold e Céline Sciamma se destacam por suas narrativas sensíveis, onde os silêncios e as emoções contidas são tão importantes quanto os diálogos.
Joachim Trier dá um toque poético e introspectivo a suas histórias, enquanto os portugueses Pedro Costa e Catarina Vasconcelos utilizam o cinema como um espaço de memória e ressignificação histórica.
O polonês Paweł Pawlikowski, por sua vez, traz ao cinema europeu um olhar minimalista e visualmente arrebatador, muitas vezes filmando em preto e branco. Suas obras exploram temas como identidade, memória e os impactos das mudanças políticas e sociais na vida pessoal, sempre retratadas por uma estética meticulosamente trabalhada.
Indicações (clique aqui e acesse a lista no Letterboxd):
Christian Petzold - Undine
Joachim Trier - A Pior Pessoa do Mundo
Catarina Vasconcelos - A Metamorfose dos Pássaros
Pedro Costa - Juventude em Marcha
Céline Sciamma - Retrato de Uma Jovem em Chamas
Pawel Pawlikowski - Guerra Fria
O cinema asiático
O cinema asiático do século XXI continua sendo um dos mais inovadores e diversificados do mundo.
Bong Joon Ho se tornou um fenômeno global, ao criar obras que misturam gêneros de maneira imprevisível (sendo coroado com o Oscar por Parasita), enquanto Ryusuke Hamaguchi constrói narrativas que mergulham nas complexidades das relações humanas e nos silêncios e espaços entre nós.
Hong Sang Soo, com seu estilo minimalista e prolífico, revela nuances emocionais em situações aparentemente banais, enquanto Kiyoshi Kurosawa renova o terror e o suspense com um olhar psicológico e atmosférico único.
Apichatpong Weerasethakul, por sua vez, representa o lado mais contemplativo e experimental do cinema asiático. Suas obras, muitas vezes marcadas por um ritmo meditativo e uma ligação profunda com a espiritualidade e a natureza, desafiam as convenções narrativas tradicionais, em experiências imersivas.
Indicações (clique aqui e acesse a lista no Letterboxd):
Hong Sang Soo - A noite na praia sozinha
Ryusuke Hamaguchi - Drive my Car
Kiyoshi Kurosawa - Pulse
Bong Joon Ho - Memórias de um Assassino
Apichatpong Weerasethakul - Mal dos Trópicos
Cinema latino americano
O cinema latino-americano do século XXI tem se consolidado como uma potência criativa no cenário mundial, apresentando narrativas profundamente enraizadas em contextos históricos, sociais e culturais da região. Meus destaques vão para Lucrecia Martel, Pablo Larraín e Alfonso Cuarón.
Lucrecia Martel, com seu estilo sensorial e intimista, desconstrói dinâmicas familiares e sociais, trazendo à tona o subtexto político e cultural da Argentina. Pablo Larraín reinterpreta eventos históricos e figuras públicas do Chile com uma abordagem inovadora e provocativa, enquanto Alfonso Cuarón - o nome com maior entrada no cinema hollywoodiano - transita entre produções intimistas e espetáculos cinematográficos, mantendo um olhar humano que ressoa globalmente.
Indicações (clique aqui e acesse a lista no Letterboxd):
Lucrecia Martel - O Pântano
Pablo Larrain - Spencer
Alfonso Cuarón - E Sua Mãe Também
Panela velha é que faz comida boa
O outro lado da moeda é que muitos cineastas “sêniors” (risos), seguem até hoje realizando belíssimos filmes, carregando mais de 40 anos de carreira nas costas.
É incrível ver diretores e diretoras, com mais de 75 anos, continuam entregando filmes que nos tiram o fôlego. Clint Eastwood, aos 93, não dá sinais de desacelerar, seja dirigindo ou estrelando suas próprias produções (inclusive, Jurado Nº2, seu próximo filme, estreia em 2o de dezembro no Brasil).
Werner Herzog e Wim Wenders seguem explorando o mundo, física e emocionalmente, com um olhar único que só o tempo aperfeiçoa. Já Ridley Scott segue encontrando espaço para fazer seus grandes épicos, enquanto David Cronenberg continua desafiando gêneros e limites com obras que provam a relevância de sua voz.
A franco-belga Claire Denis, com sua sensibilidade afiada, e Julio Bressane, uma das mentes mais inventivas do cinema brasileiro, mostram que a idade é apenas um detalhe para quem tem paixão pelo ofício.
E claro, Martin Scorsese, que aos 80 anos continua com um trabalho fantástico que o torna a prova viva de que a experiência é uma das maiores forças criativas.
Eternos na história do cinema
Mesmo não estando mais entre nós, Agnès Varda e Jean-Luc Godard continuam influenciando gerações de cineastas, tendo trabalhado até os últimos anos de vida.
Varda, com sua abordagem sensível e humanista, e Godard, um revolucionário que desafiou as convenções narrativas, não apenas criaram obras essenciais, mas deixaram um legado eterno que inspira tanto a inovação quanto a reflexão no cinema.
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