Rabo entre as pernas.
É assim que começo essa edição da newsletter. Desde o final do ano passado, quando comecei a CINESTESIA, me dediquei para manter a periodicidade de dois envios semanais por dois principais motivos: o primeiro se dá no compromisso de manter um projeto pessoal com a seriedade de que seja profissional; e o segundo, muito mais especial, é a realização de conquistar 200 assinantes na newsletter que, consequentemente, me reforça a responsabilidade de informar, entreter, inspirar e provocar reflexões interessantes para o mesmo número de mentes curiosas e interessadas por cinema.
Num mundo em que seguidores de redes sociais, audiência de podcasts e uma suposta relevância como influenciador se tornaram validadores de autoridades em temas diversos, é verdadeiramente gratificante e emocionante para mim que 200 pessoas acompanhem minha singela newsletter.
Então, aqui, deixo meu MUITO obrigado - de coração - à todos vocês, assinantes pagos e gratuitos, que se mantiveram pacientes nessas duas semanas de silêncio por parte deste que lhes escreve.
E, principalmente, deixo meu pedido de desculpas por falhar com a consistência dos envios que, a partir de agora, voltam a todo vapor e com mais energia do que nunca.
O grande motivo? Eu estava de férias, em Nova York. A cidade mais cinematográfica do mundo.
Quantas vezes você já foi a Nova York?
Não estou perguntando sobre viagens literais. E sim sobre como você já foi imerso e/ou imersa na imensidão de Nova York através de filmes e séries.
“A grande Maçã”, “uma selva de pedra”, “a cidade que nunca dorme”, “uma cidade mágica”…são vários os apelidos e as formas de se referir a cidade, mas o nome de guerra que eu definira para a cidade é o de ser a cidade mais cinematográfica do mundo, superando Los Angeles e seu letreiro de Hollywood e a bonita e sofisticada Paris.
Mais do que um cenário, a grande metrópole tem uma presença única, um estado de espírito, uma espécie de aura que pulsa em diversas produções e nos apresenta um mundo rico, diverso, frenético, apaixonante, opressor, libertador e, sobretudo, contraditório, tal qual a própria “capital cultural dos EUA”.
Em comédias românticas, por exemplo, a cidade se transforma na paisagem perfeita para os encontros do acaso, caminhadas sob a luz de postes amarelos, esbarradas mágicas em cafés, chuvas simbólicas, corridas pelas ruas lotadas e gritos por um táxi salvador capaz de te levar na direção do amor da sua vida.
Manhattan, Harry e Sally - Feitos um para o outro, Se Meu Apartamento Falasse, Amantes, West Side Story, Sex and the City, Modern Love e uma gama de imensa de filmes e séries representa a versão vibrante, charmosa e convidativa ao romance que existe em Nova York.
A parcela mais interessante da cidade é sua diversidade e, sobretudo, como sua origem e espaço urbano estão ligados a uma mistura de culturas diferentes, principalmente pelas grandes comunidades de imigrantes.
Pessoas do mundo inteiro, de descendências diferentes, ajudaram a construir uma cidade que se espalha por 5 distritos particulares, com bairros e comunidades igualmente distintas em cada um. Essas pessoas ordinárias que, hoje, pegam metrô, correm pelas ruas com um “coffee-to-go” em mãos, trabalham como baristas, garçonetes, pequenas galerias de arte e padarias descoladas.
São dessas pessoas que surgem os grandes dramas vividos na cidade do skyline mais famoso do mundo, onde se cruzam os sonhos, os fracassos, as rotinas de quem mal consegue pagar o aluguel. Filmes como O Lutador, Frances Ha, Faça a Coisa Certa, Inside Llewyn Davis, Só Deus Sabe, Os Donos da Noite, Taxi Driver, Um Dia de Cão, revelam uma cidade dura, caótica, mas cheia de camadas. Um lugar que engole e exalta, que esmaga e inspira.
Uma cidade que expurga seus fantasmas pelo cinema
Por mais que filmes blockbuster, os típicos de ação grandiosos, não tenham o prestígio e o reconhecimento de muitos dos citados aqui, acho curioso refletir sobre como a enorme maioria das produções do gênero funcionam como uma projeção de um ato de correção histórica fundamental para o estadunidense: o 11 de setembro de 2001.
Quantas vezes vimos a Estátua da Liberdade ameaçada? Quantas vezes o mundo inteiro pareceu depender de uma batalha na Times Square? Quantas vezes já não vimos portais interespaciais, invasões alienígenas, batalhas contra monstros, lutas de super-heróis e supervisões, que transformam a cidade no epicentro de catástrofes?
De Os Vingadores a Homem-Aranha, de Godzilla a King Kong, de O Dia Depois de Amanhã a Cloverfield - O Monstro, é bem simbólico como o imaginário cultural dos Estados Unidos se repete na própria indústria cultural, trazendo em seus filmes de ação dos anos 2000 um movimento recorrente de praticamente recriar o atentado de 11 de setembro em grandes set pieces cinematográficos, mas que, dessa vez, os heróis (sejam eles super ou nãos) são capazes de salvar o dia.
No fim das contas…
Caminhar por Nova York, seja de verdade ou pela lente do cinema, é também um jeito de entender o poder que as imagens têm de construir memórias que não vivemos, de provocar emoções por lugares onde nunca estivemos, e de tornar íntimo aquilo que é coletivo. O cinema transforma a cidade em espelho, sonho e palco.
E, de alguma forma, depois de tantos filmes e histórias, a gente acaba saindo de lá com a estranha sensação de que Nova York também é um pouco nossa.
Mesmo que só pela tela.
NEW YORK MOVIES
Sim, não poderia faltar uma lista com nada menos do que mais de 80 filmes em que a cidade tem um papel importante, para você assistir.
É só clicar aqui e conferir a lista no Letterboxd.
Até a próxima!
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