CINESTESIA #02 | Porque as paródias desapareceram dos cinemas?
Ainda existe espaço para o humor subversivo e polêmico das paródias, e o retorno do gênero está marcado para 2025.
Em tempos em que o cinema comercial é dominado por super-heróis, grandes franquias de ação e o retorno nostálgico de sucessos dos anos 80 e 90, algo parece ter desaparecido: as paródias.
Durante décadas, elas estiveram presentes no imaginário popular, ridicularizando o mainstream com criatividade e um toque de irreverência. Mas já há mais de uma década que não vemos uma boa paródia levando público as salas de cinema. Fica aí a pergunta: o que levou ao sumiço das paródias?
Essa pergunta me veio à cabeça com a iminência do retorno de duas gigantes do gênero: Corra que a polícia vem aí e Todo Mundo em Pânico, ambas com produções prometidas para estrear em 2025. Mais do que isso, uma questão mais interessante é questionar:
Existe espaço para os filmes de paródia no mundo contemporâneo, sobretudo em tempos de “comédia woke”? A resposta pode estar no equilíbrio entre humor, crítica e consciência cultural.
Por que amamos as paródias?
Mais do que comédias, elas são um reflexo criativo e, muitas vezes, ácido da cultura pop. Ao satirizar grandes obras, seja explorando histórias literais, personagens icônicos ou temas marcantes, elas reconfiguram aquilo que já conhecemos e celebramos.
O que as torna tão especiais é sua capacidade de recontextualizar esses elementos, apresentando-nos perspectivas inovadoras e cômicas. No entanto, para serem memoráveis, as paródias precisam oferecer uma visão crítica e inteligente que vá além da "zoeira". Quando dependem apenas de piadas fáceis, elas rapidamente perdem força.
Um breve histórico das paródias no cinema
Desde os primórdios do cinema, as paródias desempenharam um papel de destaque. Em 1925, Dr. Pickle and Mr. Pride já satirizava O Médico e o Monstro, enquanto The Little Train Robbery brincava com um dos primeiros filmes da história do Cinema, o The Great Train Robbery, de Edwin S. Porter.
Um período de ouro para as paródias se deu nos anos 60 e 70, quando o ator e comediante Mel Brooks se tornou um ícone do gênero. Sua série Agente 86 (1965-1970) e filmes como Banzé no Oeste (1974), O Jovem Frankenstein (1974) e Alta Ansiedade (1977) marcaram época. Ele trouxe um humor que ressignificava obras de Hitchcock, ficção científica (S.O.S. - Tem um Louco Solto no Espaço) e até clássicos do terror (Drácula, Morto Mas Feliz).
Nos anos 80, o trio ZAZ (Jim Abrahams e os irmãos Zucker) revolucionou o gênero com Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu! (1980). Com o sucesso do filme e o interesse da indústria, eles passaram mais de uma década realizando projetos de estilo visual e abordagem cômica inovadora, dando origem a outras paródias clássicas como Top Secret!, Top Gang! e Corra que a Polícia Vem Aí, além de consolidar a carreira cômica de Leslie Nielsen no Cinema.
A virada dos anos 2000
Com a chegada dos anos 2000, um novo fenômeno cultural marcou o imaginário de toda uma geração (inclusive, a minha). Todo Mundo em Pânico abriu as portas para uma nova leva de paródias, subvertendo o gênero de terror com um humor que marcou época.
Apesar do sucesso inicial, o formato começou a se desgastar com o surgimento de paródias menos inspiradas, como Uma Comédia Nada Romântica, Deu a Louca em Hollywood, Os Espartalhões e Os Vampiros que se Mordam.
Estes filmes menos inspirados não conseguiram encontrar o equilíbrio entre o humor ácido, por vezes polêmico e subversivo com outros produtos, recorrendo à escatologia e ao humor do absurdo como uma tentativa desesperada de agradar o público…mas sem sucesso.
Para onde foram as paródias?
Enquanto o cinema tem dado pouco espaço para as paródias, elas encontraram um novo ambiente para proliferar em duas plataformas diferentes: na TV e nas redes sociais.
No Brasil, programas como Porta dos Fundos, Parafernalha, Choque de Cultura, Falha de Cobertura, Lady Night e Rango Brabo ressignificaram a linguagem do humor, parodiando talk shows, filmes e até o universo esportivo em esquetes diversas.
Programas de televisão mais antigos como Casseta e Planeta e Zorra Total, já faziam isso ao brincar com a política, celebridades e a cultura popular, tal qual o histórico e premiado programa Saturday Night Live (SNL) faz há 50 anos na TV estadunidense.
O futuro das paródias no cinema
Com o retorno de Corra que a Polícia Vem Aí, estrelado por Liam Neeson, e a nova versão de Todo Mundo em Pânico, o futuro das paródias parece promissor. Além disso, produções como The Franchise, série da HBO que zomba de filmes de super-heróis, mostram como o gênero pode ser atualizado para a contemporaneidade.
O novo Corra que a Polícia Vem Aí, com a participação de Akiva Schaffer (do grupo The Lonely Island), tem potencial para revitalizar o humor cínico e irreverente. Já o novo Todo Mundo em Pânico pode se beneficiar da ascensão do terror "prestigiado" e dos subgêneros "metahorror" e "pós-horror", para oferecer uma crítica atualizada ao que o gênero se tornou e, principalmente, de como a geração Z tem se relacionado com o gênero e, porque não, como o Cinema como um todo.
Fico curioso para acompanhar o que vem por aí e se o possível sucesso destes projetos pode levar a uma nova onda de paródias dos principais produtos do nosso tempo.
Em um período que se discute, mais do que nunca, os limites do humor e as tensões relacionadas à liberdade de expressão num contexto sociocultural de curto-circuito (em que inclusão e pautas progressistas são conquistadas em meio a uma grande guinada conservadora mundial na política), acompanhar o retorno de paródias ácidas e polêmicas que tencionam esses limites será interessante de acompanhar.
Já estou preparando minha pipoca!
PARÓDIAS COM BOROGODÓ
No Brasil, as paródias sempre tiveram um toque local, subvertendo produções internacionais com nosso humor característico.
Desde as chanchadas da Atlântida, com Nem Sansão Nem Dalila e Matar ou Correr, até Os Trapalhões, 007 1/2 no Carnaval (1966) até Bacalhau (1976) que satirizava o sucesso de Tubarão (1975), de Steven Spielberg, o humor brasileiro encontrou maneiras únicas de dialogar com o cinema global, tendo grandes nomes do humor da época como Chacrinha e Oscarito se destacando nesses projetos.
Essas produções revisitavam obras estrangeiras pela ótica brasileira, criando uma conexão entre o público e o imaginário internacional, mas sempre com uma dose de irreverência tipicamente nossa.
BOAS PARÓDIAS PARA VOCÊ SE DIVERTIR
Para facilitar, aqui vai uma listinha massa com algumas ótimas paródias para você conhecer, reassistir e, claro, dar boas risadas.
Clique aqui para ver a lista e se prepare para bons risos!
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